Wednesday, August 12, 2009

Adroaldo Ribeiro Costa continua atual na era do are baba

CRÔNICA DE 1972:

UMA CENA DE NOVELA

Adroaldo Ribeiro Costa

Pede-me um jovem que lhe dê instruções aobre como se escreve novela para tevê, e começo por dizer que, naturalmente o escritor deve primeiro familiarizar-se com a linguagem técnica da televisão, coisa que não posso fazer nesta crônica.
Mas o principal, meu jovem, é você enrolar o mais possível, transformando todo diálogo em alféloa. Por exemplo: imaginemos uma cena entre Robernto e Odete, que formam o par romântico da estória...
ROBERTO - Estou decidido: vou partir.
ODETE - Não, Roberto! Você não pode fazer isto!...
ROBERTO - Posso e vou fazer! Esta é uma decisão irrevogável!...
ODETE - Mas Roberto, você já pensou bem nas conseqüências de sua partida, neste momento?
ROBERTO - Sim, já pensei. Em todas as conseqüências. E por isto mesmo é que estou decidido: vou partir!
ODETE - Não, Roberto... Não posso acreditar nisto! Você não vai partir...
ROBERTO - Você me conhece, Odete... Quando eu tomo uma decisão, não volto atrás! Vou partir...
ODETE - E eu, Roberto? Como ficarei?
ROBERTO - Você ficará aqui, é claro. Esperando por mim...
ODETE - Mas por quanto tempo?
ROBERTO - Isto não sei. Até que cumpra a minha missão...
ODETE - Que missão, Roberto? Você está imaginando coisas...
ROBERTO - Não, Odete!... Não estou imaginando... As coisas existem, infelizmente...
ODETE - Não posso acreditar!... Não posso!... Não posso!...
(Neste momento, Odete chora, apanhada em close pela câmara. Roberto vai até elea, abraça-a).
ROBERTO - Não chore! Assim você torna as coisas mais difíceis...
ODETE - (Debulhada em lágrimas) - Diga, Roberto! Diga que você está falando assim para por à prova o meu amor!... Diga que você não vai partir, Roberto!...
ROBERTO - Não, Odete... A verdade é esta mesmo: vou partir!...
ODETE - Mas é inacreditável! Ainda ontem você estava tão satisfeito aqui...
ROBERTO - Eu fingia que estava... Na realidade, eu já estava decidido a partir...
ODETE - Mas você não disse ontem, quando me beijou, que ia partir...
ROBERTO - Não tive coragem... Preferi deixar para comunicar a você na hora da despedida...
ODETE - E a despedida é agora, Roberto?
ROBERTO - É sim!... Eu vou partir agora!...
ODETE - Mas, por que agora?... Por que hoje?...
ROBERTO - Porque já comprei a passagem...
ODETE - Você transfere, Roberto...
ROBERTO - Não! O que tem que ser feito, deve ser feito logo! Eu vou partir! Hoje! Agora!... Adeus!...
ODETE - Não, Roberto!... Assim, não!... Não parta assim!... Dê-me pelo menos um beijo!...
(Roberto hesita. Vê-se claramente que tem medo de beijar e ficar. Mas não tem outro jeito: Odete está agarrada com ele, os olhos fechados, os lábios entreabertos. E Roberto dá-lhe um daqueles de desentupir pia, mas isto no caso da novela se destinar ao horário das 22 horas. Quando o beijo acaba...)
ODETE - Meu amor... Não vá, meu amor...
(Roberto é teimoso. Vai falar, mas Odete se põe na ponta dos pés e taca-lhe outro beijo daqueles que as pessoas ficam enrolando como quem está dançando valsa. A câmara apanha a cena de vários ângulos, enquanto a música de fundo vai subindo muito romântica. Fim do capítulo).
E Roberto parte ou não parte? Isto fica para o próximo capítulo...

SOBRE O AUTOR:
Professor, homem de teatro, cronista, intelectual baiano querido, prestigiado e carismático, Adroaldo Ribeiro Costa deixou, em suas crônicas publicadas no jornal A Tarde, uma bela contribuição para entendermos um pouco como era a cidade de Salvador, especialmente entre 1960 e início de 1980. Sem dispensar uma dose de humor, seu senso crítico ainda hoje nos faz refletir sobre temas que abordou e que continuam atuais. Um exemplo é a crônica intitulada Uma cena de novela, publicada em 3 de outubro de 1972 e que pode ser encontrada no livro Páginas escolhidas 200 crônicas e dois contos, lançado por seu sobrinho, Aramis Ribeiro Costa, em 1999.

Tuesday, August 11, 2009

O Beijo em exposição permanente no MAM


Foto: Juciara Nogueira 2009
O Beijo, escultura em metal do carioca Rubens Gerchman, falecido em 2008, encontra-se em exposição permaente no estacionamento do Museu de Arte Moderna da Bahia. A obra, de 1987, foi criada pela interseção das duas placas recortadas em metal.