Em 1989 realizei, no Shopping Iguatemi em Salvador, a exposição fotográfica individual intitulada Pastiche, uma visão detalhada e intimista do urbano, composta por 16 fotografias em preto e branco. Sobre a exposição, Hagamenon Brito escreveu no Caderno 2 do jornal A Tarde, em 24 de janeiro de 1989:
A beleza da face urbana de Salvador
Hagamenon Brito
Indecisa entre passado e futuro, Salvador tem sua face moderna escondida ente as lentes dirigidas para os escravos de ontem e hoje, tradução e tradição que encanta a maioria dos fotógrafos que registra sua cara: bela e miserável. Patiche, exposição de Juciara Nogueira, até sábado na Praça Jorge Amado do Shopping Iguatemi, procura, através de 16 fotografias em preto e branco, mostrar a plasticidade urbana da cidade em très focos: prédios, grafites e estátuas.
As várias possibilidades de urbanidade. O outro lado da meia-noite. A artista não tem nada contra os colegas que preferem mostrar os menores abandonados, os loucos de plantão, as favelas, as festas de largo e tudo aquilo que até podemos chamar de signos da miséria e do fervor religiosos e profano, mas também não abre mão de "desenvolver um trabalho em cima da beleza urbana", numa ótica que privilegia linhas que poderiam estar em São Paulo, Los Angeles, Paris ou Tóquio, mas que, não por acaso, se encontram aqui, e que ela expõe pela primeira vez. Uma visão detalhada e intimista dessa urbanidade. Dr. Jonathan Osterman (Watchmen) ao invés de Zumbi dos Palmares.
Apaixonada por história em quadrinhos e todos os símbolos da linguagem moderna, Juciara também acredita que a "imagem é a forma de linguagem que melhor traduz os anos 80, algo que no cinema, por exemplo, Francis Ford Copolla assinaria com prazer, do fundo do coração. Toda uma geração criada ao longo das duas últimas décadas (os netos de Spock) traz consigo essa memória visual eletrônica, e para uma fotógrafa que trabalha exatamente a visão do urbano, nada mais natural que fazer com que seu trabalho vá além do simples e habitual registro da imagem e carregue muito mais significados. O que não tem explicação, ninguém precisa explicar são palavras de Renato Russo, Humberto Gessinger ou Juciara Nogueira?
Preparando um projeto futuro em cima apenas dos grafites, bem como uma HQ, Juciara prefere trabalhar com fotos em preto e branco por achar que, por o mundo já ser colorido, a sensibilidade de um fotógrafo é mais exigida quando ele opta por essa dualidade e contraste, o que talvez explique por que muitos naufragam nessa praia.
Pastiche, mais do que uma visão pessoal da fotógrafa, é o melhor retrato que o futuro desta cidade já viu de si mesma, mesmo que os saldosistas ou meramente ignorantes pela estreiteza cultural teimem em retardá-lo.
Guarde as imagens trágicas porque delas já cuidam nossos telejornais e folcloristas de plantão, e exibam nossas radiografias mais belas, caros bárbaros.
Hagamenon Brito
Indecisa entre passado e futuro, Salvador tem sua face moderna escondida ente as lentes dirigidas para os escravos de ontem e hoje, tradução e tradição que encanta a maioria dos fotógrafos que registra sua cara: bela e miserável. Patiche, exposição de Juciara Nogueira, até sábado na Praça Jorge Amado do Shopping Iguatemi, procura, através de 16 fotografias em preto e branco, mostrar a plasticidade urbana da cidade em très focos: prédios, grafites e estátuas.
As várias possibilidades de urbanidade. O outro lado da meia-noite. A artista não tem nada contra os colegas que preferem mostrar os menores abandonados, os loucos de plantão, as favelas, as festas de largo e tudo aquilo que até podemos chamar de signos da miséria e do fervor religiosos e profano, mas também não abre mão de "desenvolver um trabalho em cima da beleza urbana", numa ótica que privilegia linhas que poderiam estar em São Paulo, Los Angeles, Paris ou Tóquio, mas que, não por acaso, se encontram aqui, e que ela expõe pela primeira vez. Uma visão detalhada e intimista dessa urbanidade. Dr. Jonathan Osterman (Watchmen) ao invés de Zumbi dos Palmares.
Apaixonada por história em quadrinhos e todos os símbolos da linguagem moderna, Juciara também acredita que a "imagem é a forma de linguagem que melhor traduz os anos 80, algo que no cinema, por exemplo, Francis Ford Copolla assinaria com prazer, do fundo do coração. Toda uma geração criada ao longo das duas últimas décadas (os netos de Spock) traz consigo essa memória visual eletrônica, e para uma fotógrafa que trabalha exatamente a visão do urbano, nada mais natural que fazer com que seu trabalho vá além do simples e habitual registro da imagem e carregue muito mais significados. O que não tem explicação, ninguém precisa explicar são palavras de Renato Russo, Humberto Gessinger ou Juciara Nogueira?
Preparando um projeto futuro em cima apenas dos grafites, bem como uma HQ, Juciara prefere trabalhar com fotos em preto e branco por achar que, por o mundo já ser colorido, a sensibilidade de um fotógrafo é mais exigida quando ele opta por essa dualidade e contraste, o que talvez explique por que muitos naufragam nessa praia.
Pastiche, mais do que uma visão pessoal da fotógrafa, é o melhor retrato que o futuro desta cidade já viu de si mesma, mesmo que os saldosistas ou meramente ignorantes pela estreiteza cultural teimem em retardá-lo.
Guarde as imagens trágicas porque delas já cuidam nossos telejornais e folcloristas de plantão, e exibam nossas radiografias mais belas, caros bárbaros.
1 comment:
Pró, adorei seu blogger!!!
Estes resumos estão ótimos e o seu trabalho é maravilhoso!!
Nossa, eu não tinha tido a oportunidade de conhecer seus trabalhos e este blogger é tudo de bom...adorei!!
Beijos!!
Milena Cerqueira
Escola de Belas Artes - UFBA
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